Um gajo conhece alguém interessante e até é correspondido. Há algo no ar que nos diz que poderá ser mais do que uma noite de cama ou de uns amassos num qualquer local meio-público, meio discreto. Os dias que se seguem são de natural paixão. Há vontade de foder todos os dias, vontade de nos manter-mos em contacto constante, surgem as lamechas trocas de sms, as hot late night video-conferências, os jantarinhos que impressionam, por entre sushi e velinhas e tudo corre bem. A malta não assume, de imediato, mas até gosta daquilo a que os entendidos dizem ser a fase cor-de-rosa.
Não há namoros, mas há um caminho que nos levará a isso, pelo menos até ver no que aquilo dá. Ela é interessante na cama, tem um palminho de cara e uma série de atributos que nos fazem pensar que até poderia andar por ali mais uns tempos.
As mulheres gostam de escrever bilhetinhos. Papéis pequeninos onde despejam umas baboseiras românticas que os gajos dizem que não ligam mas babam-se todos e o ego incha até mais não. Umas vezes são declarações de amor, outras são provocações que mostram, em algo palpável, aquilo que elas querem mostram. Enfim, são mais físicas. Eles ficam-se por umas sms, umas fotos e umas coisas dessas. Eventualmente, aparecem com umas flores, coisa que, se fosse gaja, acharia uma das tais "pinturas borradas", pior talvez apenas uns chocolatinhos. Pacóvios, com tão pouca imaginação.
As coisas correm às mil maravilhas até que recebes um bilhetinho mais ou menos com esta frase: "Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós...". Tu achas piada ris-te e pensas: - Ela gosta mesmo de mim. Fazes peito e segues porreiro da vida. Mas há algo em ti que te faz sentir, ao mesmo tempo, que aquela merda é pouco elaborada; culpas a lamechice a que a paixão nos vota mas, mesmo assim, parece-te pouco, assim como os bombons na versão masculina.
Como és dono de um imponente e másculo smartphone, metes aquilo no google, porque ela, com a pressa, nem referiu o autor, ainda que tenha tido a sinceridade de lhe colocar aspas. É um pedaço de papel da mesa de um restaurante, manhosamente colocado no bolso do teu casaco, enquanto foste ao wc. O google não mente: Pauloo Coelho é o autor.
Ficas pálido e o mundo pára.
- Pura que pariu! - deixas escapar. A gaja cita e, mais grave que isso, deve ler, Paulo Coelho. Foste enganado! Ela borrou a pintura e agora vais ter que sair de fininho da merda em que te meteste. Por momentos, sentes-te traído, como se tivesses ido para a cama com uma participante na Casa dos Segredos, e apetece-te tomar um banho a ferver, mas limistas-te a evitar os telefonemas e a responder aos sms. Ela nunca perceberá porque é que fugiste mas tu aprendeste que antes de tudo, devias ter tido uma superficial conversa com ela sobre literatura.
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