Ela até tinha boa pinta e um grande carro.
Conversa animada, alguns copos à mistura e as ideias mais fuscas do que inicialmente começavam a pedir que a noite se prolongasse para além daquele bar onde o que havia para dar já fora dado. Era tempo de sair dali para fora e tentar adivinhar se seria na casa dela ou na minha.
Não chegara a perceber qual era a sua profissão mas apostava em fomação superior, ainda que isso não significasse necessariamente, um grau elevado de intlectualidade ou até de cultura geral acima da média mas, que caramba, não se pode pedir tudo, sobretudo, quando se trata de um engate de bar e não se espera o paraíso definitivo. Tratava-se de uns bons momentos idealmente para repetir.
Dispenso os amigos e as boleias que quase sempre nos poupam a incómodas operações-stop e aceito o lugar de pendura no carro dela que sabia usar como derradeiro trunfo. O destino não era uma casa mas sim um hotel. Uma escolha justa para dois recém-conhecidos que sabiam que, provavelmente, o futuro não lhes reservaria muito mais do que uma ou duas saídas, regadas com bons vinhos, uns quantos jantares com vista para a cidade e um ritual próprio de sedução onde vale quase tudo para ficar por cima.
Trocámos umas palavras e umas carícias ainda antes do carro iniciar a marcha e a coisa prometia. Ela sabia beijar e onde pôr as mãos. Até que o seu dedo indicador aproximou-se do botão "start-engine" iluminado que imediatamente realçou uma unha bem tratada, pintada com detalhe finalizando um dedo longo e elegante que, para quem imaginava tudo o que se seguiria, só aumentava a vontade que o carro fizesse jus à fama e fosse a toda a velocidade para um quarto qualquer disponível.
O motor roncou e o sapato de salto demasiado alto, caro e de bom gosto, de onde eram também visíveis pés cuidados, sensuais mas decididos, carregou no acelerador tornando o sopro do motor numa música quase celestial aos meus ouvidos. Ouvidos encantados que não estavam preparados para o que se seguiria, quando a música do mp3 incorporado começou a soar nas inúmeras colunas incorporadas na pele castanha que forrava o interior do carro. Num volume generoso, possível pela fantástica insonorização interior, arrancava a todo o ritmo o mais recente hit de kizomba. Estava borrada a pintura!
É claro que não esperava a banda sonora perfeita para um momento de sedução no interior de um carro requintado, que poderia ser trazida por uma qualquer sinfonia de Beethoven, ou pelo calor sequencial emanado por um verniz vermelho vivo e traduzido por uma qualquer versão adaptada de um tango de Gardel. Aceitaria, dada a tesão instalada, uns Iron Maiden; gostaria, numa perfeita sintonia, de ter começado a escutar algo como Lana Del Rey ou John Grant. Mas era kizomba.
A curta viagem tornou-se um pesadelo com a certeza de que aquela que espalhara elegância, plástica percebera agora, sabia as letras e entoava-as como se fosse aquele o canto escolhido para o momento do acasalamento. E a cada palavra entoada no mais perfeito sotaque africano, a minha tesão escondia-se entre as pernas e a cada sorriso de satisfação pelo som de um qualquer Anselmo Ralph, na minha mente tentava-se descobrir todo e qualquer incentivo para que chegados ao quarto ainda fosse possível tirar a barriga de misérias e sair de fininho escudado por um acordar cedo para almoçar com a avozinha.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.....
ResponderEliminarFoi buscar lã e saiu tosquiado...
Isso é que dá a gente não conversar, trocar idéias, opiniões rtc...
O instinto masculino falou mais alto....
Nem tudo pode ser conversado antes. E a intuição engana...
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